Queda em ações LGBT+ afirmativas no meio corporativo e entre as marcas

Suporte a direitos e contra discriminação segue majoritário no Brasil e no mundo, embora apresente sinais de queda; apoio a atletas transgêneros cai 10 pontos desde 2021.

Foi lançada neste mês de junho a pesquisa Pride Report 2025, elaborada pela Ipsos em 26 países, que apresenta um panorama detalhado das atitudes globais em relação à comunidade LGBTQIA+.

Realizado desde 2021, neste ano o estudo mostra que, globalmente, o apoio a direitos e visibilidade LGBT+ segue majoritário, mas apresenta sinais graduais de retração ano após ano como mostram as últimas medições da pesquisa. A maioria dos países, incluindo o Brasil, ainda apoia medidas legais para proteger pessoas LGBT+ contra discriminação, embora o entusiasmo por iniciativas mais visíveis, como campanhas de marcas e políticas de inclusão corporativas, esteja diminuindo.
 
Pouco menos de dois em cada cinco pessoas (38% na média em 26 países) são a favor de que os empregadores tenham programas ou políticas que apoiem e celebrem explicitamente os funcionários LGBT+, com oposição de 24%. Enquanto isso, a maioria (39%) são neutros, nem apoiando nem se opondo a essas iniciativas no local de trabalho. No Brasil, a aceitação geral dessas políticas é maior que a média global, com suporte de 45% e oposição de 20% dos entrevistados.

Já entre os países mais ricos, que compõe o G7, o mesmo apoio caiu 7 p.p. de 49% em 2021 para 42%. Na comparação entre gêneros e gerações, a promoção ativa da igualdade para pessoas LGBT+ por empresas e marcas encontra menor aceitação entre homens da Geração Z (34%) e da Geração X (35%), que tendem a ser mais conservadores, enquanto os índices das mulheres são mais altos nessas mesmas faixas geracionais – 58% e 44%, respectivamente.

Com relação à presença de pessoas LGBT+ em mídias audiovisuais e na publicidade, a receptividade caiu de 36% em 2021 para 29% em 2025 globalmente. Nos últimos anos, o apoio brasileiro também segue em queda (- 7 p.p.), embora o Brasil ainda esteja entre os mais abertos à essas iniciativas, figurando em sexto lugar entre os 26 países pesquisados, com visão positiva do tema para 39% dos respondentes.
 
Nos últimos anos, muitas empresas privadas optaram por assumir posições públicas sobre vários temas sociais. Agora, há um clima de suspenção no ar e falta de consenso, devido a uma disputa política sobre a narrativa dos impactos da diversidade. Algumas reduziram ou descartaram completamente programas de DEI, incluindo os eventos relacionados ao Mês do Orgulho deste ano.”, aponta Marcio Aguiar Gerente sênior de pesquisas qualitativas e líder do grupo de afinidades da Ipsos no Brasil.

Brasil: Atitudes e Percepções sobre Direitos LGBT+
Apesar das quedas nos índices de apoio em algumas frentes, o Brasil mantém uma posição relativamente progressista, especialmente em relação à proteção legal e aceitação social básica.

O apoio às leis de proteção contra discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero permanece alto no Brasil, igual a média global, que é de 72% para LGB e 71% para pessoas trans. É também alto o reconhecimento dos brasileiros – dois em cada três pessoas (71%) – de que há muita discriminação das pessoas transgênero na sociedade hoje, um índice maior que a média geral de 66%.

O suporte ao casamento entre pessoas do mesmo gênero e ao direito de adoção por casais homoafetivos, apesar de sólido, apresentou leve queda, refletindo a tendência global: 69% apoiam o casamento igualitário (contra 74% em 2021) e 59% apoiam direitos iguais de adoção (contra 64% em 2021). No Brasil, os índices são igualmente de 62% para casamentos e adoções, caindo 6 p.p e 7 p.p., respectivamente, na comparação com 2021.

Autodeclaração alta no país, porém em baixa nos esportes mundialmente
Entre os 26 países pesquisado, o Brasil encontra-se em primeiro lugar no índice de respondentes que declaram pertencer à comunidade LGBTQIA+: 15% entre todos os entrevistados. Em segundo lugar aparece o Canadá, com 14% e o Chile com 13%. Na outra ponta da lista, Colômbia, Polônia e Coreia do Sul aparecem com apenas 5% de menções, cada. 

Esse reconhecimento segue sendo maior entre pessoas mais jovens.  Se olharmos as respostas por geração, 18% dos jovens brasileiros da Geração Z se autodeclaram parte da comunidade contra apenas 12% da Geração X, a que apresenta o menor índice.  Diferentemente dos números globais, no Brasil, os Boomers têm uma porcentagem maior de autodeclaração que Geração X (11%) e Millennials (13%), com 16% se autodeclarando LGBT+, enquanto na média global é de 5%.

Já a proporção de apoio de pessoas assumidamente lésbicas, gays e bissexuais em equipes esportivas abaixou de 54% em 2021para 44% em 2025, em nível global – no Brasil, apesar da queda de 8 p.p., 52% apoiam a participação de atletas assumidamente LGB A queda no apoio a atletas trans competindo de acordo com sua identidade de gênero é mais acentuada (apenas 22% globalmente apoiam a participação, 33% no Brasil), o que mostra que debates sobre direitos trans ainda enfrentam forte resistência.

Tópicos relacionados a esportes parecem ser um ponto crítico atualmente. Resta saber se a aceitação pública de uma série de questões LGBT+ continuará em tendência de queda na segunda metade desta década. Uma coisa é certa? A luta por direitos e aceitação está longe de terminar, mesmo em 2025.”, declara Aguiar.

Sobre o estudo
Estudo realizado em 26 países, incluindo o Brasil. Participaram da pesquisa cerca de19.028 adultos de idades entre 18-74 no Canada, Irlanda, África do Sul, Turquia, e Estados Unidos. Na Tailândia entre 20 e 74 anos, em Singapura 21-74, e entre 16-74 em todos os outros países. No Brasil, foram realizadas 1.000 entrevistas que representam a população mais urbana do país. A margem de erro é de 3.5 pontos percentuais.

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