Aumenta a Percepção de Rumo Errado no Brasil

A edição de julho do Ipsos What Worries the World mostra um cenário de intensificação das inquietações, tanto no Brasil quanto em alguns dos principais países da amostra.

 No Brasil, o dado que mais chama atenção é o aumento de três pontos percentuais na parcela da população que acredita que o país está no rumo errado — agora são 66%. A percepção negativa ganha força justamente em um mês marcado por impasses políticos e tensão no debate público. A sensação de que há estagnação ou retrocesso no país parece dialogar com a permanência do crime como principal preocupação nacional, citado por 41% dos entrevistados.

Na sequência, observam-se dois movimentos relevantes: a queda de dois pontos na preocupação com a corrupção (que passa para 32%) e a alta nos indicadores de pobreza/desigualdade (36%) e inflação (32%). A desigualdade social, agora a terceira maior preocupação dos brasileiros, cresceu três pontos percentuais em relação ao mês anterior e esse aumento parece estar ligado à recente discussão sobre a taxação de super-ricos. O tema ganhou destaque na mídia e no debate político, acentuando a polarização entre diferentes classes sociais e reacendendo a tensão em torno da distribuição de renda. Já a inflação, mesmo sem grandes oscilações nos preços de bens essenciais, ainda preocupa por corroer o poder de compra, especialmente nas periferias e entre as famílias de menor renda.

Nos Estados Unidos, o dado mais expressivo do mês é o salto de 17 pontos percentuais na preocupação com conflitos militares, que passou de praticamente irrelevante para o terceiro lugar no ranking nacional. O aumento repentino indica uma forte reação à escalada das tensões internacionais. Crime e violência seguem em segundo lugar, com alta de cinco pontos em relação a junho, enquanto a inflação continua sendo o principal tema citado (35%), embora tenha recuado oito pontos percentuais, sinalizando uma possível desaceleração no custo de vida.

Na Argentina, o índice de insatisfação com os rumos do país também piorou, agora são 49% os que acreditam que o país está no caminho errado, o pior dado desde o início da gestão Milei. O desemprego, que já liderava o ranking de preocupações, subiu mais três pontos e se consolida como o maior temor dos argentinos. O dado acompanha os impactos sociais dos ajustes econômicos promovidos pelo governo, como cortes de subsídios, demissões no setor público e alta de tarifas. O cenário reforça a percepção de que, para boa parte da população, a crise está longe de ser superada.
Apesar das especificidades locais, os dados revelam uma inquietação compartilhada: seja por insegurança, crise econômica ou conflitos externos, cresce a percepção de que o mundo está à deriva e de que as respostas oferecidas até aqui não têm sido suficientes para reverter esse sentimento.

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