Dia Internacional da Mulher: quase cinco em dez portugueses acreditam que há desigualdade entre homens e mulheres, mas estão confiantes no futuro das gerações mais jovens
Um novo estudo da Ipsos realizado em 32 países, em colaboração com a Global Institute for Women's Leadership do King's College London, revela que a opinião a pública global concorda que há desigualdade entre homens e mulheres em inúmeras áreas. Quase 50% dos inquiridos portugueses partilham da mesma opinião.
Principais conclusões
- 7 em 10 inquiridos (68%) concordam que há sinais de desigualdade entre homens e mulheres em termos de direitos sociais, políticos e/ou económicos no seu país, um valor ligeiramente abaixo de 2017.
- No entanto, 1 em cada 2 (54%) diz que, quando se trata de dar às mulheres direitos iguais aos dos homens, os esforços foram longe demais no seu país.
- Existem preocupações sobre o impacto da igualdade nos homens, com metade dos inquiridos (54%) a considerar que se espera que os homens façam muito para apoiar a igualdade (também acima de 2019) e 48% a concordar que os esforços foram tão longe em promover a igualdade das mulheres que os homens estão a ser discriminados.
- Mesmo assim, 3 em cada 5 inquiridos (62%) concordam que podem tomar medidas para ajudar a promover a igualdade. Mais de metade (56%) afirma que agiram nesse sentido pelo menos uma vez no ano passado. Há, no entanto, obstáculos à promoção da igualdade de género: mais de 1 em cada 3 respondentes (37%) sentiram receio de defender os direitos das mulheres.
A maioria concorda que há desigualdade entre homens e mulheres, mas discorda sobre se os homens beneficiam da igualdade de género
As respostas de todas as gerações de respondentes que participaram no estudo mostram que a maioria concorda que a desigualdade entre homens e mulheres persiste e que as melhorias exigirão esforços quer de homens quer de mulheres. Em média, 68% dos inquiridos concordam que existe desigualdade entre homens e mulheres em termos de direitos sociais, políticos e/ou económicos no seu país. Também concordam que as mulheres não alcançarão a igualdade no seu país a menos que os homens tomem medidas para apoiar os seus direitos e se envolvam para ajudar a promover a igualdade entre homens e mulheres (62%). Quase 75% dos inquiridos portugueses reconhecem que os homens são um aliado para promoção da igualdade de género.
Pouco mais da metade (55%) acredita que a igualdade entre homens e mulheres será alcançada durante a sua vida. Nos 25 países que participaram no estudo em 2018 e 2023, o otimismo de que a meta da igualdade será alcançada é 5 pontos percentuais maior do que antes da Covid. Em linha com este resultado, os inquiridos tendem a acreditar que os jovens terão uma vida melhor do que a geração dos seus pais, embora uma proporção maior se sinta otimista em relação ao futuro das mulheres jovens (51% da média global), em comparação com os que se sentem otimistas quanto ao futuro dos homens jovens (42%). Com um pouco acima dos 70%, Portugal é o país mais otimista em relação à perspetiva das gerações mais jovens terem uma vida melhor do que a dos seus pais.
Quando questionados se a igualdade de género beneficia principalmente as mulheres, beneficia principalmente os homens ou é boa para homens e mulheres, metade dos respondentes (53%) diz que é boa para ambos os sexos, enquanto 1 em 5 acredita que beneficia principalmente as mulheres. Os homens estão mais inclinados do que as mulheres a concordar que a igualdade de género beneficia principalmente as mulheres (22% dos homens em comparação com 13% das mulheres). Apenas 8% dizem que a igualdade de género beneficia principalmente os homens. Os inquiridos portugueses tendem a considerar que a igualdade de género beneficia quer homens quer mulheres.
Apesar disso, a maioria global acredita que, quando se trata de dar às mulheres direitos iguais aos dos homens, os esforços de promoção foram longe demais no seu país. Já 48% concordam que fomos tão longe na promoção da igualdade das mulheres que estamos a discriminar os homens. Em média, em 25 países, a proporção de pessoas que consideram que se espera que os homens façam demais para apoiar a igualdade aumentou 9 pontos, passando de 43% para 52% entre 2019 e 2023. Em contraste, quase 80% dos portugueses discordam que os esforços de promoção da igualdade de género tenham sido excessivos.
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4 em 10 participantes do estudo relatam ter testemunhado pelo menos uma de várias formas de discriminação de género no ano passado, sendo a mais comum ouvir um amigo ou membro da família a fazer um comentário sexista (27%), seguido de presenciar exemplos de discriminação de género no trabalho (20%) e ver alguém a assediar sexualmente uma mulher (14%). Entre os portugueses, a forma de discriminação mais reportada foi o comentário sexista por parte de amigos e familiares, com cerca de 40%.
Por outro lado, 3 em 5 participantes (59%) dizem ter feito pelo menos uma ação para promover a igualdade de género no ano passado. As ações mais comuns incluem conversar sobre igualdade de género com familiares ou amigos (32%), falar quando um amigo ou membro da família fez um comentário sexista (21%) e falar sobre igualdade de género no trabalho (21%). No entanto, mais de 1 em cada 3 inquiridos confessa que não realizou nenhuma ação no ano passado.
O estudo também revela a existência de obstáculos que impedem as pessoas de agir para apoiar a igualdade de género. Mais de 1 em cada 3 inquiridos afirmam que têm medo de falar e defender direitos iguais para mulheres por causa do que lhes pode acontecer. Este receio tem vindo a aumentar nos últimos 6 anos: entre 2017 e 2023, a percentagem de pessoas com medo de falar aumentou de 24% para 33%, em 22 países. O receio de falar também é comum em Portugal: 45% dos inquiridos indicou que não se sente confortável em dar voz aos direitos das mulheres.
Para além do receio de falar, os inquiridos também apontaram outros aspetos que os impedem de tomar ações concretas, como achar que nada que possam fazer fará a diferença (13%); não saber como conversar sobre igualdade de género ou quais os passos que devem tomar (11%); considerar que é irrelevante/sem importância (10%) e sentir preocupação de serem abusados fisicamente ou ameaçados (10%). Num registo mais positivo, apenas 6% dos inquiridos masculinos consideram que a igualdade de género é uma questão feminina e 5% não têm interesse no tema.
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Em média, nos 32 países que participaram no estudo, a geração Z (45%) e os Millennials (44%) têm maior probabilidade de se identificar como feministas, em comparação com 37% da geração X e 36% de baby boomers. Já 46% dos portugueses define-se como feminista, valor ligeiramente acima da média global.
Além disso, 2 em cada 3 participantes da geração Z (65%) e Millennials (65%) concordam que há ações que podem tomar para promover a igualdade entre homens e mulheres, assim como 61% da Geração X. A percentagem cai para 52%, no caso dos baby boomers. Da mesma forma, as gerações mais jovens são as mais propensas a concordar que a igualdade de género será alcançada durante as suas vida (60% da geração Z e 61% dos Millennials, contra 53% da geração X e 44% dos baby boomers). A Geração Z também é a mais provável de ter tomado pelo menos uma das ações indicadas em apoio à igualdade de género no ano passado (68%). Esta percentagem cai nas restantes gerações, sendo os baby boomers os menos propensos a tomar medidas (41%).
Apesar do otimismo, quase metade da geração Z (48%) e dos Millennials (43%) dizem que têm medo de falar para defender direitos iguais para as mulheres devido ao que lhes pode acontecer. Este receio é partilhado por 1 em cada 3 membros da geração X (32%) e apenas em 1 em cada 4 baby boomers (23%). As gerações mais jovens também tendem a indicar que assistiram a pelo menos uma forma de discriminação mencionada na pesquisa (58% da geração Z e 49% dos Millennials, em comparação com 36% da geração X e 26% dos baby boomers).
Ao mesmo tempo, um pouco mais de metade da geração Z (52%) e dos Millennials (53%) concorda que as coisas foram tão longe na promoção da igualdade das mulheres que os homens estão a ser vítimas de discriminação. Essa crença cai para 46% na geração X e 40% entre os baby boomers. As gerações mais jovens também são as mais propensas a concordar que um homem que fica em casa para cuidar dos seus filhos é menos homem, com 30% da geração Z e dos Millennials a concordar com essa afirmação, em contraste com 22% da geração X e apenas 14% dos baby boomers.
Ficha técnica
Resultados de um inquérito a 32 países, realizado entre 22 de dezembro de 2022 e 6 de janeiro de 2023, pela Ipsos na plataforma online Ipsos Global Advisor. Amostra constituída por 22.508 adultos entre os 18 e 74 anos nos Estados Unidos, Canadá, Malásia, África do Sul e Turquia; 20 e 74 anos na Tailândia, 21 e 74 na Indonésia e Singapura e 16 e 74 nos restantes 24 países.