Salário de metade dos portugueses não cobre as despesas
Barómetro Europeu revela quadro preocupante de pobreza e precariedade em Portugal. Para combater a crise, muitos portugueses mudaram hábitos e reduziram o consumo.

Segundo o Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, 1 em 2 dois trabalhadores portugueses diz que o seu salário não chega para fazer face às despesas. Pior do que o resultado nacional só a Moldávia.
Esta é uma das conclusões da 2ª edição do barómetro realizado para a Secours Populaire Français, uma organização não-governamental. O estudo online inquiriu 10 000 indivíduos com mais de 18 anos, de dez países europeus (Alemanha, França, Grécia, Itália, Polónia, Reino Unido, Moldávia, Portugal, Roménia e Sérvia). Portugal estreia-se neste estudo conduzido pela Ipsos França.
O retrato traçado pelo barómetro revela que a situação dos trabalhadores da dezena de países inquiridos é muito preocupante: um pouco mais que a maioria (55%) diz que o seu poder de compra diminuiu nos últimos três anos. Grécia (64%), Sérvia, (63%) e França (60%) registam as maiores reduções de rendimento, enquanto Portugal está em linha com a média europeia.
O aumento dos preços é, de longe, o principal motivo evocado pelos países inquiridos para explicar a redução do seu poder de compra. Quase 9 em cada 10 portugueses apontam a inflação para explicar o menor rendimento disponível.
Fruto do contexto económico mais exigente, as condições financeiras e materiais tornaram-se ainda mais precárias em alguns países, como a Grécia e na Moldávia. Em ambos os casos, quase 50% dos inquiridos afirmam que uma despesa inesperada pode desequilibrar o orçamento familiar. Cerca de 35% dos portugueses dizem que se encontram numa situação semelhante.
Embora 40% dos portugueses se preocupem com uma possível situação de insegurança financeira nos próximos meses, o resultado é ligeiramente inferior à média europeia (48%). Este sentimento, somado à preocupação com a subida do custo de vida, reflete-se no receio de não serem capazes de manter a sua autonomia financeira (54%), de ajudar os filhos em caso de necessidade (53%) e de lidar com um corte de um apoio financeiro (50%) como, por exemplo, o abono de família ou um bónus do trabalho.
Corte nas despesas
Para fazer face ao aumento do custo de vida, a maioria dos inquiridos a nível europeu viu-se na necessidade de tomar decisões difíceis, como renunciar ao consumo de alguns bens ou serviços ou recorrer a apoio financeiro, quer de amigos ou familiares, quer de instituições. A esse respeito, os portugueses não são exceção. A situação financeira mais frágil impeliu-os, nos últimos seis meses, a reduzir viagens de carro ou transportes (32%) e a pedir dinheiro emprestado a amigos ou familiares (17%). Além disso, 10% confessam que abdicaram de uma refeição, mesmo tendo fome.
O barómetro também revela que os portugueses são os que mais procuram produtos com preços baixos e ofertas especiais (93%). Apesar da adoção destas estratégias, apenas 34% conseguem poupar algum dinheiro no fim do mês.
Por outro lado, o barómetro assinala que cerca de três quartos do total dos inquiridos estão dispostos a envolver-se pessoalmente no apoio a pessoas que vivem em situações mais carenciadas. Esta atitude é mais expressiva nos países onde as dificuldades socioeconómicas são mais graves, como Portugal, Grécia e Sérvia.
Sobre French Secours Populaire A French Secours Populaire é uma reputada instituição de utilidade pública que atua em defesa de um mundo mais justo e solidário, permitindo a todos emancipar-se e encontrar o seu lugar enquanto cidadão, independentemente de onde vive, trabalhe ou estude. |
Ficha técnica
Resultados de um inquérito online Ipsos realizado entre 7 e 27 junho de 2023 para a French Secours Populaire. Amostra representativa da população de 10 países europeus constituída por 10.000 indivíduos com mais de 18 anos.